Serviços de ride-hailing de empresas como Uber, DiDi e 99 modificaram consideravelmente os hábitos de mobilidade urbana em diversas cidades no mundo. Apesar da presença desses serviços na maioria das cidades brasileiras, ainda se sabe muito pouco sobre o perfil sociodemográfico e os padrões de consumo dos usuários de mobilidade por aplicativo no Brasil. Este capítulo apresenta o primeiro estudo de abrangência nacional sobre como o uso de ride-hailing varia segundo renda, sexo, idade e cor, e destaca como esse uso varia espacialmente entre regiões metropolitanas do país, e entre capitais e periferias metropolitanas. O estudo utiliza dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2017- 2018, gerados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma fonte de dados ainda pouco explorada em estudos sobre transporte urbano. O uso de ride-hailing no Brasil ainda é restrito a uma pequena parcela da população. Em 2018, apenas 3,1% das pessoas acima de 15 anos de idade usavam esses serviços, fazendo uma média de aproximadamente 8 viagens por mês, com custo médio de R$ 22,50 por viagem. Os resultados mostram que a mobilidade urbana por aplicativo no país é socialmente desigual e espacialmente concentrada. A taxa de adoção desses serviços é significativamente maior entre a população de alta renda, de escolaridade elevada, mais jovem (entre 15 e 34 anos), entre mulheres e a população branca. Ainda, cerca de 60% dos usuários de ride-hailing residem numa das dez maiores regiões metropolitanas do país, embora a taxa de adoção, a frequência e o custo médio das viagens apresentem grande variação entre cidades. Finalmente, o estudo aponta que a adoção de ride-hailing é maior entre pessoas que moram em bairros com maior densidade e em grandes centros urbanos, com taxas significativamente menores nas periferias metropolitanas e no interior do país. Esses resultados mostram que os potenciais benefícios do ride-hailing não estão igualmente disponíveis para todos, e levantam importantes questões para futuras agendas de política e de pesquisa sobre os impactos que esses serviços podem ter sobre a mobilidade urbana.
Citation:
Warwar, L., & Pereira, R. H. M. (2021). Mobilidade por aplicativo no Brasil: Características e padrões de consumo. In V. Callil & D. Costanzo, Mobilidade por aplicativo: Estudos em cidades brasileiras (1º ed, p. 12–42). Centro Brasileiro de Análise e Planejamento Cebrap.